Confira abaixo algumas entrevistas de grandes educadores dando dicas e
opiniões sobre a nossa educação como
pode melhorar?,aonde estamos errando? veja:
Juan Delval: "É essencial saber como o aluno aprende"
Segundo o autor espanhol, que pesquisa as concepções sociais de crianças e jovens, é necessário entender quais são elas para ensinar bem
_Por a entrevista ser muito grande separamos somente algumas partes a integra de toda a entrevista esta no final do post no Link.
Muito se fala em "levantar o conhecimento prévio do aluno", mas pouco se sabe realmente sobre os caminhos do pensamento infantil. Não existe um ponto de partida zero para ensinar ou aprender. Todos possuímos um conhecimento, além de representações e modelos elaborados e estabelecidos individualmente, para entender o mundo.
Por compartilhar dessa visão, o autor espanhol Juan Delval centrou seu trabalho na pesquisa sobre o desenvolvimento do pensamento científico e no levantamento do que as crianças acham sobre questões sociais. Conhecer as concepções delas, de acordo com ele, é um passo importante para ensinar bem. "Uma vez que um dos objetivos da escola é levar os estudantes a formar representações adequadas do mundo em que vivem, o educador precisa ter como referência essas ideias preconcebidas para realizar sua tarefa satisfatoriamente."
Catedrático de Psicologia Evolutiva e de Educação na Universidade Autônoma de Madri, Delval foi coordenador do Programa de Doutorado em Desenvolvimento Psicológico e Aprendizagem Escolar da mesma universidade. Tem realizado conferências e pesquisas em vários países ibero-americanos, entre eles Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, Cuba e México. Nesta entrevista, concedida a NOVA ESCOLA quando esteve no país, em novembro do ano passado, Delval conta as principais descobertas sobre a concepção de crianças e adolescentes a respeito da sociedade.
Qual o papel da escola, como instituição, nesse processo? DELVAL Tomar como base os conceitos infantis para ajudar a transformá-los em conhecimento científico. Muitas vezes, o professor parte do pressuposto de que a criança chega à escola sem conhecimento, e não é assim. Ela sabe menos que os adultos, mas tem o domínio de outras competências, como a tecnologia. O desenvolvimento do conhecimento da turma depende do que ela já conhece.
Que ideias infantis podem ser destacadas no que se refere ao desenvolvimento econômico?
DELVAL A primeira realidade econômica com a qual os pequenos se relacionam é provavelmente a loja. Eles aprendem muito cedo que esse é o lugar onde obtêm diversas coisas de que precisam e que isso se dá em troca de dinheiro. Mas, por volta dos 5 anos, não entendem a troca em si. Para eles, o dinheiro é um elemento ritual que permite a compra. Muitas vezes, interpretam que o vendedor devolve mais dinheiro do que recebeu porque olham a quantidade de notas e não o valor delas. Chegam ao ponto de dizer que uma as fontes para obter dinheiro é a loja.
As crianças compreendem o lucro?
DELVAL Não. Veja que curioso: até os 11 anos, as entrevistadas nas pesquisas acreditavam que o dono da papelaria cobra por um lápis o mesmo que paga na compra. Isso se explica pela confusão de valores morais - recebidos por meio dos pais. Elas consideravam o lojista um amigo que estava resolvendo um problema. Muitas diziam, inclusive, que ele oferece os produtos com preço abaixo do custo porque, assim, vende mais. Apesar de estarem imersas em uma sociedade centrada no lucro, não conseguem entendê-lo.
Quem eram os entrevistados?
DELVAL Crianças e jovens da Inglaterra, da Holanda, da Itália e do México. Entre eles, havia quem trabalhava nas ruas como vendedor ambulante e, mesmo nesse grupo, os resultados foram muito semelhantes. Há pequenas alterações de acordo com as faixas etárias, mas os que tinham um melhor conhecimento sobre o processo de compra e venda também não conseguiam entender o lucro.
Em seu livro Los Niños y Dios. Las Ideas Infantiles Sobre la Divinidad, las Orígenes y la Muerte, são tratadas as imagens dos pequenos sobre Deus. Quais são elas? DELVAL O livro traz os resultados de uma pesquisa que fiz com uma orientanda na Espanha e no México entre os que frequentavam escolas católicas. Em relação a Deus, os pequenos têm uma ideia muito concreta: é uma pessoa vestida com uma túnica comprida, que tem os cabelos brancos e compridos e usa uma coroa. Ele fica no céu, rodeado de anjos. Já os maiores pensam de forma mais abstrata e fazem uma reflexão pessoal sobre o assunto. Para eles, Deus é um sentimento interno que tem a ver com a consciência moral.
Qual a conclusão de seus estudos? DELVAL A criança enxerga a sociedade de uma forma muito diferente do que o adulto. Para ela, vivemos num lugar sem conflitos, em que todos cooperam e os adultos detêm o conhecimento, que é algo valioso. Os ricos são ricos, e os pobres, pobres - não há níveis intermediários. Acredito que a origem de muitos problemas sociais, hoje em dia, reside na fase em que os adolescentes descobrem que a sociedade não é, de maneira alguma, racional e organizada, como tinham em mente. Eles experimentam, então, a frustração por se sentirem impotentes para mudar a ordem das coisas.
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Entrevista II
Para Alberto Carlos Almeida, só a escola garante uma sociedade ética
Para o sociólogo, mais tempo de estudo dará aos brasileiros valores mais nobres, essenciais para o crescimento do país
Ética, sexualidade e família são alguns dos temas tratados por Alberto Carlos Almeida - no livro A Cabeça do Brasileiro, um desdobramento da Pesquisa Social Brasileira (Pesb), em que o sociólogo investigou os atuais valores de nossa sociedade. As obras do antropólogo Roberto DaMatta e de seus seguidores, que afirmam ser o Brasil um país antiquado, serviram de base para o trabalho.
Nos tempos de graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Almeida lia os livros de DaMatta e pensava em provar que suas definições estavam equivocadas. "Com a pesquisa, vi que, na média, elas estão corretas", afirma. Durante cerca de três meses, em 2002, pesquisadores percorreram 102 municípios para entrevistar, em casa, 2 363 pessoas. A amostra revelou um retrato desolador no que se refere aos princípios do brasileiro.
Nesta entrevista concedida a NOVA ESCOLA, o coordenador do trabalho, que cursou mestrado e doutorado em Ciências Sociais, faz relação entre o pouco tempo de estudo do cidadão e os valores ruins que possui. "Para resumir a conclusão da pesquisa em uma frase, digo que só a Educação pode melhorar uma pessoa."
O que a pesquisa realizada sob sua coordenação revelou sobre os valores do povo brasileiro?Alberto Carlos Almeida No Brasil, há a idealização de que os pobres são bons e ingênuos, e os ricos, maus e espertos. No entanto, a pesquisa mostrou que pessoas menos favorecidas economicamente e que têm pouco estudo defendem o "jeitinho brasileiro" e a violência policial e confundem o espaço público com o privado - valores considerados arcaicos. Por outro lado, quem tem nível superior e compõe a parcela mais rica apóia valores sociais democráticos, essenciais para um país desenvolvido.
Que dados confirmam isso?Almeida Um princípio que pauta as relações humanas é a hierarquia. Esse aspecto ficou claro nas respostas à seguinte pergunta: o patrão diz ao empregado que a partir daquela data ele pode ser chamado pelo pronome de tratamento você. A maioria das pessoas menos favorecidas acha que o funcionário deve continuar usando o tratamento de senhor. Outra questão apontava que os moradores de um edifício liberariam o uso do elevador social aos trabalhadores do condomínio. Grande parte desse mesmo grupo disse que o certo seria continuarem utilizando o de serviço. Para eles, pessoas diferentes têm direitos e lugares distintos. No filme Tropa de Elite, por exemplo, há espectadores que aplaudem quando a polícia é violenta. A Pesb comprova esse comportamento medieval. As pessoas não apóiam que o bandido seja preso e julgado, com direito a defesa. Elas acham certo matá-lo independentemente de ele ser ou não culpado.
É possível que os entrevistados com mais instrução tenham dado respostas "ideais" em vez de ser sinceros?Almeida As perguntas foram feitas de maneira indireta, ou seja, representavam condições hipotéticas. Por exemplo: uma mãe que está com o filho doente conhece alguém que trabalha no posto de saúde e consegue passar na frente de outras pessoas. Você acha que o "jeitinho" está sempre certo, certo na maioria das vezes, errado na maioria das vezes ou sempre errado? Para chegar a esse formato, fizemos pré-testes perguntando se o sujeito furava a fila, se conhecia alguém que fazia isso e se ele era a favor dessa atitude. A resposta era sempre não. Então, concluímos que não poderíamos perguntar desse modo, pois todo mundo mentiria. Mesmo assim, vamos supor que quem estudou mais se policiou nesse momento. Isso revela que esses indivíduos prezam alguns valores, diferentemente dos que têm menor grau de instrução, que nem sequer cogitaram essa possibilidade.
Em suas palavras, a escola não é conservadora. No entanto, ela é constituída por pessoas que prezam valores familiares e religiosos, esses, sim especialmente conservadores.Almeida Sim, ela é feita por pessoas conservadoras, mas quando uma criança ingressa nela percebe que o mundo não é mágico nem composto de monstros e super-heróis, mas feito de coisas palpáveis. Ela aprende sobre a origem do mundo em Ciências e conhece as conquistas territoriais em História. Os conteúdos treinam o sujeito para pensar de forma cética. Ele continua acreditando em Deus, mas não deposita seu destino nas mãos dele. A escola ensina que cada um pode resolver os próprios problemas, sejam eles matemáticos, físicos ou de comunicação. E, quanto mais tempo de estudo, maiores as chances de conseguir um emprego numa grande empresa e, conseqüentemente, um salário melhor.
Como nasceu o famoso jeitinho brasileiro e por que ele é tão valorizado?Almeida Seguir uma fila é uma regra informal, ou seja, não está escrita em algum lugar e desrespeitá-la ou furar a frente de alguém são ações que não prevêem prisão ou multa. Porém, quando as pessoas quebram esse contrato, estão dando um "jeitinho". É algo institucionalizado mais em alguns segmentos do que em outros. Por exemplo, para os que têm uma vida difícil, essa atitude acaba sendo algo facilitador e a prática costuma até ser motivo de orgulho.
E isso aparece também na escola?Almeida Sim. Quando as faltas de um aluno são abonadas para que ele não seja reprovado, por exemplo. Com essa atitude, o professor - que é uma referência para crianças e jovens e, por isso mesmo, deveria combater esse tipo de comportamento - passa a mensagem de que isso é aceitável, permitido.
De que forma a pergunta sobre o espaço público e o privado afeta o dia-a-dia de professores e alunos ?Almeida Em uma questão, há a afirmação de que cada um cuida do que é seu e o governo cuida do que é público e 74% dos entrevistados concordaram com isso. A crença é mais forte entre os que possuem pouco estudo. Quem tem maior grau de instrução acha que, se agir e pressionar, haverá uma reação e algo será feito para mudar um serviço ruim, por exemplo. Talvez isso explique a razão de pais de alunos de instituições estaduais ou municipais participarem menos do cotidiano escolar do que os das privadas.
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Entrevista III
"A tecnologia vai melhorar a educação, mas não substituí-la", defende professor da Universidade do Futuro
Nos
próximos 20 anos, o mundo vai mudar mais do que nos últimos 200 anos — e a
educação estará no centro dessa revolução.
O
venezuelano José Cordeiro propõe um novo papel para professores e alunos,
especialmente para aqueles estudantes que estão começando o aprendizado, os
"nativos digitais", que já nasceram no ambiente das novas tecnologias
e das redes sociais.
Diretor
do Projeto do Milênio (Venezuela) e professor na Singularity University,
fundada pela Nasa e pelo Google nos Estados Unidos, Cordeiro está em Porto
Alegre para participar do 12º Congresso do Ensino Privado, promovido pelo
Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS).
O tema
do evento, que ocorre até sexta-feira na PUCRS, é A Maestria do Professor na
Arquitetura da Aprendizagem.
Zero Hora — A educação no Brasil
enfrenta dificuldades com a formação dos docentes, o que inclui pouca prática
em sala de aula durante o curso universitário e acesso limitado a novas
tecnologias. Para complicar, a profissão enfrenta uma desvalorização, com
salários baixos e poucos estudantes interessados em seguir na carreira. Como as
novas tecnologias podem colaborar para uma transformação?
Cordeiro — As
novas tecnologias estão ficando melhores, mais rápidas e mais baratas. Isso
permitirá um aumento na oferta de educação de forma mais eficiente. O Life-Long
Learning (projeto de educação contínua desenvolvido na Finlândia) será uma
tendência na medida em que as pessoas vivem mais e de forma mais saudável. A
educação será mais importante e mais reconhecida, fazendo com que os educadores
sejam mais respeitados e melhor pagos. Contudo, como os professores são
"imigrantes digitais", enquanto os alunos são "nativos
digitais", o papel dos professores precisa mudar. Os professores do futuro
serão mais facilitadores do que professores tradicionais. Em espanhol, dizemos
que
"o diabo sabe mais por ser mais experiente do que por ser o diabo", e
podemos dizer o mesmo dos professores: "os professores sabem mais por
serem mais experientes do que por serem professores".
Zero
Hora — Há previsões de que, a partir de 2029,
os computadores ficarão tão ou mais inteligentes do que o cérebro humano. Como
isso impacta a educação?
Cordeiro — Estimamos que no ano de 2029, pela
tendência de desenvolvimento dos computadores, eles terão quase o mesmo
conhecimento humano. Isso vai permitir aumentar nosso conhecimento, então vamos
ter uma educação muito melhor, porque vamos ter acesso a todo o conhecimento
humano. É como uma internet dos cérebros humanos.
Zero Hora — Qual é o papel do professor nesse novo
modelo educacional, especialmente em relação à inteligência artificial?
Cordeiro — Os professores do futuro serão
facilitadores e orientadores, guiando as possibilidades dos alunos
individualmente, mas também em grupos. A inteligência artificial não vai
substituir a inteligência humana, mas vai ajudar a qualificá-la. Com a
inteligência artificial e outras novas tecnologias, a educação e o aprendizado
vão experimentar a mais radical transformação da história da humanidade. Nós
estamos realmente experimentando uma incrível revolução educacional.
Zero Hora — Uma educação mais
individualizada costuma ser defendida por especialistas. Ao mesmo tempo, a
realidade das salas de aula é outra, com professores que costumam atender a um
número grande de alunos no dia a dia, muitas vezes com pouca estrutura. Qual a
melhor estratégia para resolver essa demanda? Como a tecnologia pode ajudar?
Cordeiro — Graças
às novas tecnologias, o trabalho dos estudantes em casa e na escola vai mudar
radicalmente. Eles vão aprender mais em casa, online, e deveres de casa serão
feitos na escola, com os professores e grupos de estudantes, trabalhando juntos
para solucionar problemas. Nos próximos anos, os estudantes vão aprender mais e
mais não apenas com os professores mas também com os os colegas. A tecnologia
vai melhorar e ampliar a capacidade de aprendizado de todos.
Link: http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/precisamosderespostas/19,1430,4203273,A-tecnologia-vai-melhorar-a-educacao-mas-nao-substitui-la-defende-professor-da-Universidade-do-Futuro.html